Muito tem sido dito sobre a nova
equipe econômica brasileira, alívio incontestável ante o triunfo da
incompetência, marca da gestão de Dilma Rousseff. Naturalmente, a atenção tem
se voltado para os nomes do Ministério da Fazenda e do Banco Central, sobretudo
do Ministério da Fazenda, que terá trabalho árduo para descobrir qual o tamanho
do buraco que o governo afastado cavou nas contas públicas brasileiras. Esse,
entretanto, não é artigo sobre os desafios fiscais, amplamente conhecidos e
debatidos à exaustão. Esse artigo trata de outro tema, tema que o novo governo
parece pronto a encaminhar como há muito não se via.
Foram muitos os artigos escritos
por diversos economistas, inclusive por mim, sobre o tema do comércio exterior,
sobre o isolacionismo brasileiro, sobre o fato de sermos uma das economias mais
fechadas do planeta. Há muito tempo o Brasil não tem estratégia clara para a
política externa. A política externa do governo de Dilma Rousseff foi pródiga
em desmandos e anomalias. Não à toa, estados falidos como a Venezuela de
Maduro, a trágica Venezuela, atacaram de modo veemente o afastamento da
Presidente. A razão é conhecida: a Venezuela acaba de perder o mais importante
apoio diplomático e financeiro da região.
A guinada de Michel Temer na
política externa brasileira prenuncia-se com a posse do Senador José Serra como
Ministro das Relações Exteriores, e com as novas responsabilidades que o cargo terá
sobre o comércio exterior. Há muito o que fazer: procurar formas de engajamento
com a Aliança do Pacífico, repensar o Mercosul junto com parceiros como a
Argentina, que, sob a liderança de Macri, já deu sinais de que pretende
reavaliar o acordo que jamais funcionou bem para parte alguma, levar a cabo as
negociações entre o Mercosul e a União Europeia, retomar a agenda de
facilitação de comércio entre o Brasil e os Estados Unidos. Para avançar nessas
e em outras áreas é preciso tratar de temas espinhosos, como as nefastas regras
de conteúdo local disseminadas por toda parte pelo governo de Dilma Rousseff. É
preciso, também, ter bom entendimento sobre como está o Brasil, hoje, no mundo.
É recorrente a ideia de que o
Brasil nesses últimos anos tornou-se primordialmente país exportador de
produtos básicos. Verdade que nossa indústria sofre há anos com políticas
equivocadas, carga tributária demolidora, excesso de regulações que dificultam
a atividade produtiva, e por aí vai. Contudo, há alguns dados interessantes,
frequentemente ignorados. Segundo base de dados de comércio do Banco Mundial
(WITS – World Integrated Trade Solution), 62% das exportações do Brasil para os
Estados Unidos são de bens intermediários ou bens de capital, contra apenas 23%
de produtos primários. Para a União Europeia, o Brasil exporta cerca de 46% do
total em bens intermediários ou de capital, contra 41% de produtos primários –
ou seja, o peso dos primários na pauta dessa relação bilateral é praticamente
igual ao de produtos com maior valor adicionado. Por fim, para a China
destinamos 84% de nossa produção primária, contra míseros 15% em bens de
capital e bens intermediários. Há, portanto, espaço não apenas para promover a
indústria brasileira entre alguns de nossos principais parceiros comerciais,
mas, sobretudo, para priorizar as relações entre os países que mais compram
produtos industriais “made in Brazil”.
Por falar em “made in Brazil”,
outro dado amplamente desconhecido assusta. Revela a World Input-Ouput Database
(WIOD) que entre 1995 e 2011, o conteúdo de valor-adicionado importado nas
exportações de produtos manufaturados brasileiros praticamente não mudou,
passando de 9% para 11% em década e meia. Em contrapartida, na China tal número
saltou de 10% para 35% no mesmo período, enquanto na Índia o pulo foi de 9%
para 24%. Ou seja, enquanto a indústria exportadora nacional permaneceu
caracterizada pelo viés nacionalista, outras grandes economias emergentes
passaram a enxergar as virtudes do “made in the world”.
Por fim, livro muito interessante
de Caroline Freund, do Peterson Institute for International Economics (“Rich
People, Poor Countries”, publicado esse ano) mostra claramente a ausência de
dinamismo no Brasil a partir de uma base de dados que reúne as grandes fortunas
de diversos países emergentes. Há imenso contraste naquilo que se vê no Brasil,
de um lado, Índia e China, de outro. Enquanto no Brasil cerca de metade dos
bilionários do país são indivíduos que herdaram suas fortunas, na Índia e na
China os bilionários são majoritariamente empreendedores que formaram suas
próprias empresas, sem depender de conexões políticas ou apadrinhamentos, ao
contrário do que muitos imaginam. Na Rússia, não surpreendentemente, cerca de
70% dos indivíduos bilionários não são “self-made”,
mas sim gente politicamente conectada e apadrinhada.
O que toda essa evidência
empírica revela é que o Brasil tem muito o que fazer para correr atrás do
prejuízo causado por anos de isolacionismo. As novas lideranças que haverão de
tratar desses temas inspiram grandes expectativas. Avancemos, pois.
Publicado no portal Exame em 20/05/2016
Quando eu deixei de ouvir a Rádio CBN - por não mais aguentar as furadas e as barrigas do C.A. Sardenberg e as idiotices do Merval. Embora descordando em parte, mas ainda via na Mônica de Bolle uma esperança de um comentário pautados nos fundamentos do jornalismo - isenção, verdade e fontes confiáveis. Em julho eu já comentava que essa ex brilhante estudante da PUC- Rio, não mais fazia comentários sobre a Economia brasileira, e hoje, nem sei porque, resolvi dar uma clipada nos podcasts da Mônica no economia de quarta... Qual foi a minha surpresa? A Mônica não fala mais de Economia brasileira. O quê mudou heim Mônica? A que tipo de agenda vc está a serviço? Será que o seu público americano lê o que vc escreve sobre o seu país? Quer dizer, se é que vc ainda continua brasileira, rsrsrs. Ufanismo à parte, Sinceramente os texto sobre economia internacional são bons, mas para isso a CBN já tem pessoas melhores do quê vc.Eu gostaria imensamente de ler ou ouvir uma ANÁLISE SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA PÓS TEMER - COM AS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO, COMO AS QUE VC FAZIA, assinado pela Mônica de Bolle... Que pena Mônica. Fala Sério!
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